Sou Zenilda Siqueira Lima Veras, de origem nordestina, cheguei a Brasília aos 8 ( oito anos) de idade, juntamente com minha mãe, Maria do Carmo lima de Campos, oito irmãos, sendo ( quatro) mais novos e quatro mais velhos que eu.
Chegamos a Brasília no auge da revolução de 1964, contudo, apesar de estarmos vivendo um momento histórico tão importante, era como outro qualquer, pois estávamos saindo do interior de Pernambuco e para nós, crianças, tudo era muito bonito, a cidade muito plana , cheia de luzes, bem diferente da nossa pequena Salgueiro e ainda, com promessas de grandes possibilidades.
"A Revolução de 1964 foi um movimento cívico militar ocorrido no Brasil iniciado na madrugada de 31 de março para 1 de abril de 1964 que depôs o Presidente da República, João Goulart, e instalou um regime militar no Brasil que perdurou até 15 de março de 1985."
Na época, nos instalamos na “Cidade Livre”, hoje Região Administrativa do Núcleo Bandeirante. Minha mãe, mulher batalhadora e de muita coragem, foi professora no interior de Pernambuco e sua maior preocupação, era com a nossa educação. Nove filhos para criar e educar sozinha, pois havia ficado viúva com todos nós muito pequenos.
Meu primeiro contato com a escola, aconteceu aos cinco anos no jardim de infância, em Salgueiro, Pernambuco, que até hoje guardo lembranças positivas dos colegas e de minha primeira professora, “Lenita”, que muito contribuiu para minha atual formação. Em Brasília, cursei o Ensino Fundamental, antigo Primário, fiz parte do processo seletivo, Exame de Admissão, para ingressar no Ginásio e Segundo Grau em escolas da rede pública de ensino no Núcleo Bandeirante. No Ensino Médio tive formação técnica, Auxiliar de Contabilidade, pois a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 5692/71 em vigor na época, estimulava os estudantes ao ensino profissionalizante. Aos dezessete anos concluí o Ensino Médio com louvor, pois sempre fui boa aluna. Desde os quatorze anos trabalhei no comércio para ajudar no sustento de minha família mas sempre tive como objetivo estudar em uma faculdade.
Apesar de não ter cursado o Científico, que preparava o aluno para o ingresso na universidade, eu prestei vestibular em 1977 para o curso de Pedagogia e para minha alegria, passei. Minha vontade era era formar-me em Psicologia , porém era oferecido durante o dia no CEUB ( Centro de Ensino Unificado de Brasília) e UNB (Universidade de Brasília) e eu precisava trabalhar para custear meus estudos e ajudar no sustento da família. Em 1977 iniciei o curso superior em Pedagogia no CEUB Centro de Ensino Unificado de Brasília).
No início da faculdade, fui promovida ao cargo de Gerente do Setor de Jóias no Ponto Frio, empresa em que trabalhava como vendedora. Fui transferida para a loja do Conjunto Nacional, com uma carga horária de praticamente doze horas diárias. Para conciliar os estudos com o trabalho, fiz a opção de cursar apenas algumas disciplinas do curso, o que me causou alguns problemas, pois eu acabei priorizando o trabalho em detrimento da faculdade que tranquei por dois anos. Continuei trabalhando, sempre conquistando novos espaços no mercado de trabalho na liderança de lojas, mas no meu íntimo faltava algo mais, a faculdade que eu havia deixado para trás.
No Ano de 1980, casei-me, mais uma vez tentei retomar meus estudos, mas devido a alguns problemas no casamento e a gravidez do meu primeiro filho, mais uma vez tranquei o curso. Tive três filhos em menos seis anos de casada, mas em junho de 1985, meu marido sofreu um acidente fatal de automóvel deixando-me viúva, com três filhos. Mikael com quatro anos, Alan com dois anos e Elen com Seis meses. Aqueles momentos em que eu estava vivendo, pareciam um grande pesadelo. Eu que sonhara em cursar uma faculdade, agora via que tudo se desmoronava.
Continuei a trabalhar no comércio, desta vez na Sandiz, empresa do grupo Pão de Açúcar, que para minha felicidade, estimulava seus funcionários a estudarem, custeando 50% dos estudos em bolsa auxílio. Após quase dez anos sem estudar fui jubilada no CEUB (Centro de Ensino Unificado de Brasília), tive que prestar outro vestibular, desta vez na AEUDF, também na área de Educação, para aproveitamento dos créditos das disciplinas já cursadas no CEUB. Mais uma Vez passei. Iniciei novamente a faculdade de Pedagogia, desta vez mais motivada a concluir, pois tinha o estímulo da empresa e a motivação dos filhos. As pessoas poderão perguntar. Porque fiz a opção por pedagogia e não Administração, que era a área em que eu trabalhava? Respondendo a esta pergunta, o trabalho no comércio me rendia o sustento da minha família e o curso na área de educação me realizava. Passei interessar-me pelo estudo do desenvolvimento da aprendizagem no ser humano, que também pela pedagogia poderia conhecer e aplicar futuramente, como minha primeira professora “Lenita”, do Jardim de Infância. Reiniciei a faculdade, e após o quarto semestre, solicitei a minha transferência para a faculdade Católica de Brasília onde concluí o curso com habilitação em Administração Educacional e complementei com mais dois anos a habilitação em Orientação Educacional.
A minha vida acadêmica seguia os caminhos da educação e minha vida profissional seguia a área comercial,mas eu ainda não podia trocar o salário que eu ganhava, pelo salário de professor.
Em meio a todas as dificuldades encontradas, Deus sempre se fazia presente em minha vida e em todas as minhas decisões. Pensava eu, que estava no comando , mas quem sempre esteve, era Ele. No ano de 1997, a Secretaria de Educação abriu concurso para o cargo de Orientador Educacional e para testar meus conhecimentos, fiz e passei. Mas minha colocação não foi das melhores, Deus mais uma vez estava decidindo por mim, o momento certo. Em 1998, cansada de trabalhar no comercio, pois já contavam vinte e um anos de dedicação. Parece que o tempo transcorria de tal forma, que eu nem percebia que meus filhos já eram adolescente e precisavam muito de minha presença. Fui trabalhar como Pedagoga, na Fundação de Serviço Social, no SOS Criança, desenvolvendo projetos de trabalho na área sócio educativa com meninos e meninas em situação de risco nas ruas de Brasília. Esta foi uma das melhores aprendizagens que adquiri na área de educação desde a minha formação em Pedagogia. Quantas pérolas colhi naquele início de carreira e a partir daí passei a ver aquelas crianças, como pessoas que passaram pelas instituições, (família e escola) e que, por algum motivo houve falha em desenvolvimento integral. Percebi então a importância do papel do educador na sociedade e na formação do cidadão, capaz de intervir de forma crítica na sociedade de que faz parte. Ainda trabalhava na Fundação de Serviço social, quando fui convocada em março do ano 2000, para assumir o cargo de Orientadora Educacional, na então, Fundação Educacional, hoje Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. Fiquei muito feliz, pois após tantos anos iria contribuir com o meu trabalho para o desenvolvimento de muitas crianças e adolescentes, para com isto evitar a evasão escolar e minimizar número de crianças nas ruas.
Iniciei meu trabalho como Orientadora Educacional, no Centro de Ensino Médio Nº 10 do Setor P Sul de Ceilândia, escola muito conceituada, por desenvolver um trabalho pedagógico relevante . Um de seus projetos premiados a nível nacional, ADIP, Academia Dez da Imortalidade Poética, estimulava toda a comunidade escolar a registrar seus escritos o que culminou com a publicação de um livro com poemas de autoria dos alunos, professores e servidores. Esse projeto teve a autoria de uma Colega, Professora muito competente, Marilza, de Língua Portuguesa.
Após dois anos, na função de Orientadora Educacional, fui indicada pelos professores da escola, para assumir a direção . Contribuí com o meu trabalho na direção por dois anos e senti falta do contato direto com meus alunos e comunidade escolar, desenvolvendo projetos voltados a atender as especificidades dos alunos, como: Auto-estima, Motivação, Orientação Vocacional, Orientação Sexual , além do atendimento individual a alunos e famílias.
No ano de 2004, retomei a função de Orientadora Educacional, desta vez, na Equipe de Atendimento/Apoio à Aprendizagem de Ceilândia, composta por um Psicólogo, (Enock),uma Pedagoga, (Júlia),e eu, Orientadora Educacional. Neste mesmo ano, senti necessidade em melhorar os meus conhecimentos na área de Ensino Especial e fiz minha Pós Graduação em psicopedagogia. Na Equipe passei a desenvolver um trabalho preventivo e interventivo junto aos alunos, que apresentam dificuldades de aprendizagem e com necessidades educacionais especiais de quatro escolas, sendo duas Escolas Classes, um CEF, (Centro de Ensino Fundamental) e um Ensino Médio. Fiz parte desta equipe até o mês de maio deste ano. Por determinações da Secretaria de Educação, os Orientadores Educacionais que estavam nas equipes, foram lotados nas escolas. Eu continuei no Centro de Ensino Médio Nº02 na função de Orientadora Educacional, atendendo somente esta escola, apesar de acreditar que os Orientadores Educacionais têm condições de exercer suas funções pedagógicas tanto em uma só escola, como nas Equipes, uma vez que o nosso trabalho não se restringe ao âmbito apenas da escola, mas ainda assim sinto-me feliz por participar do processo de desenvolvimento dos nossos alunos.
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